Você já sentiu como um plástico flutuando pelo infinito
deixando a vida te levar? Já se sentiu ao meio de uma ponte prestes a desabar?
Pois é, eu já me sentir.
Eu nunca julguei minha vida fácil, mas nunca reclamei
dela pra ninguém, porque eu sabia que alguém bem ali do outro lado da rua,
adoraria ter a vida confortável de uma garota independente que haverá saído da
casa dos pais ainda cedo e se encontrava agora em frente a um prédio de uma
consagrada instituição de universidade para prestar o seu terceiro exame para o
curso de medicina.
Não sei se era o nervosismo de já ter tentado outras
vezes e não ter conseguido, mas algo no ar me soava que não seria diferente
dessa vez, apesar dos inúmeros incentivo dos meus pais que me ligavam e enchiam
por horas com seus planos de uma futura filha medica.
O
vento que batia e o sol tímido no horizonte deram a coragem para aquela jovem
de cabelos encaracolados, olhos castanhos marcantes e aquela franja lateral de
entrar naquele prédio e realizar o seu terceiro exame.
É... os meus pressentimentos estavam certos, e mais uma
vez eu tinha falhado, meu corpo então mais pesado do que meus pés poderiam
sustentar desaba junto com lagrimas que encharcavam os meus olhos em cima da
minha cama com aquela carta pela qual decidira minha vida, recém aberta.
Por três anos eu havia me empenhado e tentado passar
naquele maldito exame, minha cabeça agora estava confusa. Eu não sabia se teria
coragem de levantar daquela cama, me preparar para um novo exame e tropeçar de
novo, não... Não! Eu não agüentaria de novo!
Os poucos passos que dei em direção a aquele local que
se encontrava cheio de pessoas falando de todo tipo de coisa, não me fizeram
refletir muito e colocar meus pensamentos em ordem, mas eu sabia muito bem o
que faria.
___ Garçom! Uma cerveja! – Pedi logo que me recostei
sobre aquela cadeira dura e gelada que se encontrava.
Foram poucos os minutos que demoraram a o garçom vir
trazendo um copo e uma garrafa de cerveja, eu não havia começado a beber há
muito tempo, mas aquela bebida sempre me consolava quando precisava, meus pais
não sabiam disso, sei que não iriam gostar de saber, mas como eles iam saber se
eu não iria contar né ?
Então aquela bebida como já havia feitos outras vezes
me deu a calmaria e as respostas para tudo que eu precisava.
Naquela noite sai decidida dali a nunca mais fazer
aquela prova outra vez, não que eu estivesse desistindo dos meus sonhos, mas eu
já estava cansada de iludir a mim própria.
Eu não era mais aquela garota pequena que acreditava em
contos de fadas, e que saiu da casa dos pais pensando que tudo ocorreria a mil
maravilhas, agora eu já sabia como o jogo da vida acontecia, a vida dar as
peças e nós jogamos o jogo.
A parti daquele momento eu iria apenas me contentar com
o que a vida havia me dado, chega de insistir no que não teria resultado, hora
de curti o meu emprego de garçonete naquela lanchonete mesquinha, casar daqui a
um tempo com um bêbado com cuecas furadas, me encher de filhos e cuidar dos
meus netos até os fins dos meus dias. Eu já havia tentando de tudo e não obtive
resultados, então agora o jeito era aceitar os planos da vida.
Nos próximos dias que se passaram, comecei a deixar a
vida seguir o seu curso, ela jogando as peças na mesa e eu obedecendo sem querer
furar alguma das regras.
Como fazia diariamente, ao amanhecer daquela brecha de
luz que sempre me indicava quando começava o dia naquele apertado apartamento,
eu me levantei como de costume, fui para mais um dia de trabalho, naquela
lanchonete que ficava a poucos quarteirões do meu apartamento, mas que não
resistia aquela verdadeira maratona de logo pela manhã pegar o ônibus cheio de
pessoas recém acordadas que saiam de casa sem mal escovar os dentes até chegar
ao meu trabalho. Lá as fofocas rolavam a solta entre as outras garçonetes, eu
não me encaixada no grupo então elas sempre paravam a conversa quando percebiam
que eu as observava.
Além de garçonete em meu formulário podia-se dizer que
eu era garçonete barra assistente geral, os meus ouvidos ficavam azucrinados
quando a senhora Charlotte com aquela voz arrogante, gritava o meu nome
espantando qualquer ser vivo que tivesse os ouvidos bem limpos.
___ Caroline! – Meus ouvidos então se acanhavam ao
ouvir tal chamado.
___ Sim, senhora Charlotte! – Eu respondia indo ao
encontro da minha chefa.
___ Quero que limpe o armário de compras e depois der
uma passada no supermercado e compre os itens que eu deixei em um bilhete sobre
a mesa - Tagarelava a senhora Charlotte enquanto meu cérebro tentava absorve o
que me dizia.
Depois de mais um dia irritante e estressado de
trabalho, ao fim do expediente quando o sol já tinha se posto fora do horizonte
caminhei a poucos passos dali, em direção a biblioteca da cidade como de
costume ficava aberta até mais tarde, pois a coordenadora da biblioteca morava
bem ao lado e adorava ficar etiquetando e organizando livros até altas horas.
Como de costume aquele horário a biblioteca se
encontrava um verdadeiro deserto, a não ser o cachorro que fazia companhia a
senhora Diniz, coordenadora da biblioteca, nenhum outro ser que respirasse se
encontrava ali no momento.
A senhora Diniz
me conhecia muito bem, eu sempre aparecia naquele horário por ali eu li contará
que estaria prestando exame para o curso de medicina pela terceira vez.
Ela mal olhará para mim, e eu nem li precisei dizer
nada, pois pelos seus olhos sérios desgastados pelo tempo, e com aquelas linhas
de expressão pelo rosto bem acompanhadas pelos fios brancos dos cabelos, ela já
percebia que eu não havia passado no teste e não estaria disposta a falar sobre
o assunto, ela apenas me cumprimentou
como sempre, e ficou observando enquanto eu escolhia o que ler sobre as
prateleiras.
___ Diário de
uma Paixão - Nicolas Sparks! Alguém anda até altas noites sobre as
nuvens em mocinha?!– Sorrindo ela disse ao eu entregar a ela o livro que queria
levar.
Não é que ela não conhecesse meu gosto por romance, mas
ela sempre apostava que quando eu pegava um livro daqueles era porque sempre
tinha um rolo pelo ar, na maioria das vezes ela tinha razão, mas daquela vez
não , eu só pegaria aquele livro com a intenção de me distrair mesmo, o já
havia lido umas duas vezes e sabia o seu poder de distração.
Um costume meu ao querer refletir com calma sobre algo,
ou simplesmente a vontade incontrolável que já existia dentro de mim, me
fizeram antes de ir ao meu apartamento, ir ao encontro daquele já conhecido bar
e pedir uma garrafa de cerveja, “qual é? Essa garrafa é só pra distrair”, eu
pensava enquanto pagava a bebida e seguia em direção ao meu apartamento.
Uma mortadela dentro de um pão e eu já estava
suficientemente satisfeita e depois disso nada melhor do que me deitar naquele
sofá, ler aquele bom livro e beber a minha cervejinha do lado.
Os dias passam, as coisas mudam, quer dizer pra outras
pessoas, não pra mim, minha vida continuava a mesma e minha rotina parecia não
mudar nunca, um pouco depois da cerveja que logo fiquei dependente, veio o
cigarro que eu já não conseguia viver sem.
É... aquela não era a vida que eu sempre sonhei, mas
fazer o que ? A vida me deu as percas do jogo, eu apenas aprendi a brincar com
elas.
O meu amigo e único na lanchonete onde eu trabalhava, o
Jonas, vivia me enchendo, dizendo que aquilo não era vida, que eu deveria
tentar parar de beber, de fumar cigarro, ‘’mas pra que?’’ Eu perguntava a mim
mesma.
Por algumas vezes se não fosse o Jonas a caminho de casa
a noite me ver bêbada caída no bar e fosse lá me ajudar e me levar pra casa, eu
não sei o que seria de mim, acho que eu simplesmente amanheceria dormindo ao
relento.
Algumas vezes eu havia pegado as garçonetes fofocando e
ouvi boatos que elas diziam que o Jonas gostava de mim, eu nunca havia notado
isso, e também não haverá me esforçado pra notar, eu o considerava apenas como
amigo, e acho que não conseguiria considerá-lo de outra forma.
Essa era a minha vida, até que a vida começou a jogar
novas peças no jogo e resolveu dar umas reviravoltas em tudo. Não sei se tudo
não passou de um sonho, ou se tudo realmente existiu, mas marcou e mudou minha
vida para sempre.
Em um fim de semana em casa, terminando de ler pela
décima vez o livro, Diário de uma
Paixão - Nicolas Sparks! estava eu lá, sentada no sofá em meu
apartamento com uma garrafa de cerveja do lado.
Minutos depois terminado de ter lido o livro e um tédio
sufocante agora sentindo, tentando me distrair ligo a televisão para assistir
algo que pudesse me distrair naquele sábado, como era de se esperar nada aquele
horário me agradava a assistir , quando eu ia desligando a televisão para
tentar ir dormir mais cedo, algo me chamou a atenção em um comercial: ‘’ Você
anda se sentindo sozinho e quer conhecer novas pessoas? Ligue agora mesmo para
o nosso chat, conheça pessoas legais e faça novos amigos ‘’.
Não é que eu precisasse de novos ‘’amigos’’, mas aquele
tédio sufocante quase como me obrigou ir até o telefone falar com quem sei lá
que fosse ao menos para me distrair, assim pensado e assim feito, em menos de
dez minutos eu já havia pegado o telefone e discado o numero que se referia ao
tal chat, de principio nem eu me reconhecia, sinceramente não fazia o meu tipo
ficar grudada em um telefone a procura de novos ‘’amigos’’.
Algumas conversas aqui, alguns bêbados ali, outros
pedófilos ali, senhoras se fingindo de mocinhas por outro lado, e assim a minha
noite foi passando.
Outros dias sucederam a isso e quando vir, a maioria
das noites eu passava grudada naquele telefone falando com os mais variados
tipos de pessoas, sei lá aquela sensação de sentir rodeada por pessoas era boa,
me lembrava a minha infância, a infância de uma pequena bailarina aplaudida de
pé pelos parentes, amigos, e professores da escola. É... aquela sim foi uma
época boa, pena que esse mundo encantado infantil não dura pra sempre e uma
hora desmorona, e agora eu estava ali, grudada a um telefone ansiando por
companhia.
Em uma dessas noites grudada ao telefone que eu conheci
o Pedro, ele foi um dos poucos que conseguiu que eu passasse meu email, em
algumas noites eu nem entrava no chat, ligava diretamente para ele, a gente
sempre conversava sobre tudo, porém evitávamos falar sobre nós mesmos, era
incrível como as horas passavam rápido quando eu conversava com ele, foi um dos
poucos por quem conseguiu minha admiração e eu conseguir me apegar tão rápido.
___ Então quer dizer que você sabe cozinhar é Carol? –
Ele perguntou uma vez, Curioso.
___ Gosto sim, quando se escolhe morar sozinha, se
aprende muitas coisas. – Disse pensando em tudo que tive que aprender ao sair
da casa dos meus pais.
___ Você foi muito corajosa de sair da casa dos céus
pais tão cedo pra enfrentar o mundo. – Ele disse
___ É... fui....Mas, e você, sabe cozinhar ? –
perguntei
___ Se for pra queimar a panela e incendiar a casa toda
podemos dizer que sim. – Ele disse enquanto sorriamos juntos.
O tempo passou meu carinho pelo Pedro só ia aumentando
cada dia mais, sei lá, era como se ele tivesse conseguido acender uma luz que
havia se apagado a muito tempo dentro mim, depois de tanto tempo eu me via com
o entusiasmo de passar uma simples maquiagem, até o Jonas e os outros
funcionários da lanchonete percebiam como estava agindo diferente.
Por mais que eu nunca tivesse visto pessoalmente o
Pedro, só por foto, era como se esse fato não importasse, o simples fato de ver
aquela voz roca apaixonante soando do outro lado da linha fazia o meu coração
disparar, no começo eu podia dizer que não sabia o que estava acontecendo
comigo, mas ao passar dos dias, aquela mão soando ao telefone sempre que eu
falava com ele, aquele rosto avermelhado na mesma ocasião não estavam deixando
duvidas.
___ Canta, Carol! Você parece ter a voz linda. – Ele
insistiu uma vez pra que eu cantasse “Claudinho e Buchecha-Fico Assim Sem
Você’’, a música estourada no momento.
___ Ah não né Pedro! – Respondi envergonhada por
aquilo.
___ Anão é um homenzinho pequeno, canta só pra mim vai,
eu te acompanho no refrão, relaxa que eu não vou gravar isso. – Ele insistiu
com aquela voz apaixonante impossível de resistir.
___ Ta bom... [...] Avião
sem asa, fogueira sem brasa, sou eu assim, sem você, futebol sem bola, piu-piu
sem Frajola, sou eu assim, sem você... [...] – Comecei a cantar ainda
envergonhada.
__ [...] Por que
é que tem que ser assim? Se o meu desejo não tem fim, eu te quero a todo
instante, nem mil auto-falantes, vão poder falar por mim... [...] – Ele
continuou a cantar junto comigo com aquela voz roca apaixonante enquanto
aquelas estrelas lá fora brilhavam naquele incessante e esplendoroso céu.
Cara eu estava amando, era algo novo pra mim, algo sem
explicação, que só quem já amou um dia pode entender, é algo puro, doce, suave,
algo que consegue mexer com a gente lá dentro, eu estava apaixonada por ele, só
não sabia como dizer isso pra ele, pra falar a verdade eu não sabia nem como
começar, até aquele momento eu e o Pedro havíamos falado de tudo menos assim,
sobre o amor, os rolos de cada um, eu nem sabia se ele tinha namorada, e quando
eu tomava coragem pra perguntar isso pra ele algo me impedia, ai eu me sentia
uma adolescente com seu primeiro amor.
Nós havíamos falado algumas vezes sobre nos ver
pessoalmente e ele sempre falava que iria marcar uma data assim que possível
para a gente se encontrar, pois ele sempre estava viajando.
Os dias foram passando, até que um dia eu tomei a
iniciativa e falei pra ele o que eu estava sentindo, a principio pela voz dele,
ele pareceu ter ficado bem surpreso com o que eu havia dito, mas aos pouco ele
também confessou que estava gostando de mim, eu estava tão feliz. Em fim a vida
havia me dado a oportunidade de ser feliz, depois que cada um de nós se declarou
as nossas conversas só ficaram mais longas e mais entusiasmadas.
Pouco tempo depois eu já não queria só aquele faz de
conta, eu queria algo serio então como ele já havia dito outra vez que não
estava namorando eu tomei a iniciativa e pedi ele em namoro por ali mesmo por
telefone. Você deve está me achando uma louca por mal conhecer ele pessoalmente
e já ir pedindo ele em namoro né? Era algo que eu não conseguia explicar, era
algo que me fazia fazer loucuras e era o que estava fazendo, mas a resposta não
foi muito bem a esperada.
___ Carol... Eu não havia li dito nada, mas eu estou
comprometido com uma pessoa – Ele falou com aquela voz roca.
___Mas você havia me dito que estava solteiro-Falei
confusa.
___Desculpa?Eu devia ter li falado isso, eu iludir
você... Desculpa? – Ele parecendo desapontado consigo próprio falou.
___ Você não devia ter feito isso Pedro, você brincou
comigo, me iludiu, você sabia o que eu estava sentindo por você e mesmo assim
me deu esperanças, você é um canalha Pedro. – Eu falei alterada e com raiva por
ele ter mentido pra mim.
__ Desculpa, por favor? – Ele pediu mais uma vez.
Eu sem dizer nada apenas desliguei o telefone na cara
dele. Um dia, dois, três dias se passaram e eu não entrei no chat e nem liguei
para o Pedro, minha cabeça estava confusa entre o sentimento e a razão, ele
tinha mentido pra mim me enganado, mas ao mesmo tempo eu não conseguia para de
pensar nele, amá-lo.
Os dias foram se
passando e aparte do sétimo dia, eu orava para que aquele telefone tocasse, nem
que fosse pra me pedir desculpas com aquela voz roca mais uma vez, mas eu
queria que o Pedro me ligasse.
Já fazia um mês que eu não falava com o Pedro, a aparte
do décimo dia eu decidi ligar pra ele, mas todas as ligações só caiam na caixa
postal, nem se quer um recado no meu email ele havia deixado, aquele silêncio
todo, ele sem me dar noticia já estava me deixando preocupada.
Mais dois dias já haviam se passado, eu estava indo ao
supermercado como de costume fazer umas compras para a lanchonete, quando vir
como um flash um acidente acorrer na minha frente, em um dos semáforos, um
homem, provavelmente um mendigo havia sido atropelado por um carro que havia
vindo em alta velocidade.
Aproximei-me do local para seguir para o supermercado e
notei que era o mesmo mendigo que havia estado do outro lado da rua em frente à
instituição onde eu havia prestado o meu terceiro exame para medicina, toda a
vitalidade parecia não se encontrar mais ali, o homem já estava morto.
Segui caminhando para o supermercado e na cabeça
vinham-me reflexões de como a vida é algo frágil, que como um copo feito do
mais fino vidro ao ser jogado no chão, não tem mais jeito, os cristais se
estilhaçam assim como a vitalidade de um ser que outra hora existira e que aos
poucos deixa o ciclo da vida se concluir.
Depois do meu expediente ao termino de um dia cansado
de trabalho, seguir para o meu apartamento onde fui surpreendida no balcão pela
atendente tendo em mãos uma carta para mim, a principio pensei que era dos meus
pais, mas logo que reparei no remetente me espantei ao ver ‘’ Pedro Henrique
Albuquerque’’, caramba, era do Pedro, em fim ele havia dado algum sinal.
A uma altura daquelas eu esperava nem que fosse um
sinal de fumaça, eu havia passado o meu endereço pra ele, mas ele não havia
passado o seu endereço pra mim se não já havia dado um jeito de procurá-lo, então
sorrindo ansiosamente eu segui para o meu apartamento e tendo mal fechado a
porta já pus a romper o lacre do envelope onde havia escrito :
“Há
muito tempo que você desejava que nós nos conhecêssemos pessoalmente, eu tanto
enrolei, mas agora finalmente eu vou cumprir o que havia prometido uma vez pra
você.’’
E então havia coordenadas de onde e a que horas eu
devia o encontrar, eu não sabia bem onde era o local, mas eu iria o que encontrar,
e bem no canto da folha com aquela caligrafia bem feita de desenhista que o
Pedro era dizia: “A vida é como uma verdadeira montanha russa, cheia de surpresas...
’’
Chegado o horário e o momento marcado, estava eu lá
surpresa em frente a um cemitério da cidade, aquilo não se encaixada em nada,
só uma mente muito “genial” para marcar um primeiro encontro em um cemitério,
mesmo eu achando muito estranho fui até a portaria do local e encontrei um
coveiro do cemitério.
Eu o perguntei se estaria alguém ali me esperando e com
aquela voz já fraca da idade ele pergunta o meu nome, eu o respondi e
imediatamente ele tirou um pequeno envelope de carta do bolso, me entregou e
apontou em direção a um tumulo onde eu deveria seguir.
Confusa e sem está entendendo nada, eu apenas peguei a
carta e seguir em direção ao tumulo apontado por ele, chegado lá eu abri o
envelope e vi o remetente, era o Pedro, na carta dizia:
“Querida
Caroline, você tanto pediu pra que a gente se encontrasse né? E eu sempre a
enrolei, desculpa por isso. Porém como já havia dito na carta anterior eu
cumpriria a promessa que fiz pra você e a gente se encontraria... que lugar
estranho pra eu marcar um primeiro encontro né? Mas... era o único lugar onde
você poderia me encontrar agora, observe de quem é esse tumulo que o coveiro li
indicou ao fim dessa carta que você entenderá tudo.
Há
cinco meses eu estava debilitado em uma cama de hospital quando recebo a notícia
do medico que teria pouco mais de cinco meses de vida, eu já havia vindo
lutando contra um câncer há anos e aquilo para mim já não era mais uma
surpresa, agora bastava apenas deixar as coisas acontecerem e a vida me levar
quando chegasse à hora então buscando a alegria que ainda me restava da vida eu
comecei a conversar naquele chat com varias pessoas.
Em
uma dessas conversas eu encontrei você, algo em você me conquistou desde as
nossas primeiras palavras trocadas, era algo diferente, quando eu conversava
com você eu simplesmente esquecia que estava em uma cama de hospital debilitado
e me sentia vivo. Eu posso dizer que foi quando eu conheci você que eu
realmente comecei a viver, pois até aquele momento minha vida era só lutar
contra o câncer que eu havia descoberto aos 18 anos.
Quando
você se declarou pra mim, minha vontade era de querer abraçar, beijar você no
mesmo estante, mas me segurei a manter a voz controlada, aquele sentimento que
crescia no meu peito por você era forte, por mais que a minha razão achasse
melhor eu encerrar a conversa por ali mesmo, o sentimento falou mais alto e eu
também me declarei.
Juro
que lutei pra não tentar te iludir, mas as minhas tentativas foram tolas.
Quando
mesmo por telefone você me pediu em namoro, então naquele momento eu vi que eu
tinha que tomar uma atitude, foi ai que eu te falei que estava envolvido com
uma pessoa, não quer dizer que eu tenha mentido sobre isso, mas realmente eu
estava comprometido com uma pessoa, com Deus, só ele sabia quanto tempo eu
ainda permaneceria vivo e eu não queria ver você sofrendo a minha partida.
Desculpa
se eu iludir você ta? Juro que não queria fazer isso. Você pra mim foi um anjo
que Deus mandou pra me ajudar nessa partida, você é simplesmente única.
Só
quero lhe fazer um último pedido, uma vez você me falou que tentou passar em um
exame para um curso de medicina a anos em uma universidade e que por não
consegui por três vezes, desistiu, eu quero lhe pedir que você não desista e
persista mais uma vez, quer dizer, persista quantas vezes for necessário, eu
tenho certeza que você é capaz, confie em você, nunca deixe de lutar pelos seus
sonhos, e lembre-se a vida é única e breve, então faça tudo valer à pena. Um
grande abraço, eu amo você, Pedro Henrique Albuquerque. ’’
E bem no canto da folha com aquela caligrafia bem feita
de desenhista que o Pedro era dizia: “A vida é como uma verdadeira montanha
russa, cheia de surpresas... E você foi uma surpresa da vida pra mim, tornando
os meus dias melhores.”
Ao termino de ler a carta, com os olhos encharcados de
lagrimas, me agachei para ver de quem era o tumulo indicado pelo coveiro, e
havia lá escrito: “Pedro Henrique Albuquerque, 1979 a 2002”.
Eu parecia não acreditar no que os meus olhos me
diziam, não podia ser verdade aquilo, o Pedro só poderia está armando uma
brincadeira de muito mau gosto pra mim, e sem acreditar, vou até o coveiro e
pergunto há quanto tempo haviam enterrado a pessoa daquele tumulo e quem havia
o entregado aquela carta, ele com aquela voz roca desgastada pelo tempo me diz que
a mais ou menos um mês e quem o havia entregado era o irmão do falecido.
Alterada eu o pergunto se ele sabia o numero do tal
irmão do falecido, ele vendo minha apreensão, vai até um setor, ver em um livro
de anotações o numero que haviam passado ao cemitério e me entrega, eu pego o
numero e sem saber muito que fazer e no que acreditar vou até a minha moto
recém comprada em grandes parcelas, me apoio sobre ela buscando apoio, disco
nas teclas do meu celular o tal numero e ligo, após dois toques alguém atende
do outro lado da linha.
___ Alô! – Dizia a pessoa do outro lado da linha em um
tom firme e cansado.
___ Quem está falando? – Perguntei nervosa.
___ João Lucas e quem é você? – Ele perguntou confuso e
percebendo o meu nervosismo.
___ Você é o irmão do Pedro Henrique? – Perguntei sem
ao menos responder a pergunta que ele havia me feito.
___ Sou sim, meu irmão morreu a um mês de câncer, por
que e quem é você? – Ele falou esperando obter uma resposta.
Ainda não acreditando no que parecia está acontecendo,
desligo o celular, ponho o no bolso, coloco o meu capacete, e começo a andar
pela cidade de moto sem saber muito bem para onde estava indo.
Quando eu percebi, me encontrava bem a frente da praia
e aquele entardecer do sol no horizonte parecia amenizar a agonia que eu estava
sentindo então eu desci da moto e fiquei a admirar a paisagem sentindo aquele
vento gelado que agora secavam minhas lagrimas que teimavam em cair.
Aos poucos meus pés, já não suportavam o esforço que eu
tentava fazer pra me manter em pé, e aos poucos eu fui me deixando levar pela
inclinação do corpo a me levar a sentar sobre aquela areia seca e acolhedora
que agora agüentava os meus pequenos socos que meus braços tentavam dar
buscando as forças que me restavam para suportar aquilo.
Quando a noite já havia caído e o frio dominava o meu
corpo, procurei as pequenas forças que ainda me restavam, para seguir para o
meu apartamento.
A caminho de
casa estava ela lá, acolhedora e refrescante de idéias tumultuadas na cabeça,
lá estava o bar, com aquela que já havia me ajudado tantas vezes a esquecer
problemas.
Tantas coisas me passavam pela minha cabeça, tantas
imagens, as palavras daquela carta iam e vinha no meu pensamento, foi quando o
ultimo suspiro da razão e os sonhos daquela garota pequena e esquecida dentro
de mim falaram mais alto.
A vida é
realmente uma montanha russa com muitas surpresas como o Pedro havia falado
muitas surpresas mesmo, ela nos ensina da forma mais dolorosa lições que só a
vida nos sabe dar e foi com esse pensamento que eu me desviei do bar e seguir
em direção ao meu apartamento.
Alguns dias se passaram e eu percebi que a vida estava
me dando a oportunidade de refletir sobre mim mesma, sobre os meus sonhos e
planos e com aquelas palavras finais da carta do Pedro ainda em mente “lembre-se
a vida é única e breve, então faça tudo valer a pena” que eu comecei realmente
a jogar o jogo da vida.
Eu procurei uma clínica de reabilitação, parei de beber
e de fumar, no ano seguinte eu prestei novamente a prova para o curso de
medicina e surpreendentemente eu passei, pouco tempo depois, o Jonas meu amigo
da lanchonete em fim confirmou os boatos que já corriam por lá e se declarou
pra mim, pouco tempo mais tarde a gente começou a namorar, eu terminei a
faculdade de medicina.
Hoje faz 10 anos que o Pedro morreu, sou formada e
trabalho na área de pediatria de um hospital particular, eu e o Pedro casamos
três anos depois do namoro, temos um filho de cinco anos e estou grávida pela
segunda vez, agora de uma menina, a Giovanna.
Em suas palavras na carta o Pedro disse que eu fui um
anjo na vida dele, mas na real ele que foi um anjo na minha vida, um anjo que
me ensinou a realmente viver a vida, o Pedro me desvendou o verdadeiro enigma
das peças que a vida nos dar, hoje eu só tenho a agradecer por ele ter aparecido
na minha vida e ter me feito perceber que a vida realmente vale à pena.
Em memória de Graciene Pinheiro
Pereira que faleceu vitima de câncer no ceio em 2004, mas que ainda em vida
sempre buscou levar alegria para aqueles que a rodeavam. Você se foi, mas
deixou muita saudade.
Autora : Slife
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